sábado, fevereiro 06, 2016

Eduardo Lourenço: «País póstumo» (Diário como)

Recortes de «Entrevista», de 2003, a Anabela Mota Ribeiro:
[...]
É verdade que tem um diário?
Se já o sabe, para que é que me faz a pergunta?

Porque podia tê-lo deixado a repousar...
Tem uma certa razão de ser...

Tanto quanto sei, é a irregularidade que define o seu contacto com o diário.  
No princípio era uma espécie de projecto de um diário, adiado, adiado para outro país, que se pode chamar póstumo. Depois comecei a arrancar algumas páginas, outras começaram a sair...

Porque é que pensou nele como um projecto póstumo? Tem que ver com um pudor que envolve a esfera privada?
O meu diário é já em si tão narcísico, ontologicamente falando... Salvo os diários de pura constatação, que faziam os secretários dos papas ou dos reis para que constassem as coisas significativas de uma época, os diários são uma invenção moderna. É um indivíduo que, escrevendo o diário, assume-se como criador de si mesmo. [...]

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