No mais recente livro de M. de C., são apresentadas 96 curtas evocações autobiográficas (e de extensão semelhante), sem ordenação cronológica.
Recortes do texto n.º 39 («A minha escola primária»):
Nunca percebi porque é que a minha mãe não me deixou ir para a escola da Câmara. Quando passávamos pela Penha de França, via sempre aquele recanto esverdeado cheio de moçada alegre, jogos de eixo, bolas de trapo, algazarra e apetecia-me andar por lá.
Mas a minha mãe não apreciava. [...] De maneira que lá fui parar a uma escola particular, dita «externato», que era pontificada por três manas, todas professoras. [...] Carteiras duplas, quadro preto, secretária, meninos e meninas, e eu logo na segunda classe porque já trazia de casa o ler e o escrever. As meninas estavam ali clandestinamente. Era proibido. O ensino não era misto. Sempre que surgia uma hipótese de fiscalização, alguém estranho, um capitão da tropa que lá ia representar a Mocidade Portuguesa, elas eram arrumadas, pela porta do fundo, na divisão ao lado, por acaso o quarto de dormir duma das professoras. [...]
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