- então jovem, Ruy Castro trabalhava para as «Selecções» e morava em Campo de Ourique; evoca «esse tempo» em entrevista à «Mensagem», jornal de Lisboa [...]
RECORTE(s):
Como foi testemunhar o 25 de Abril?
Foi uma surpresa, afinal na minha percepção de estrangeiro, a ditadura tinha durado 48 anos e parecia que iria durar outros 48. Na manhã do dia 25, quando acordei, a rádio só tocava umas marchas militares. Liguei para uma jornalista amiga minha que me disse mais ou menos o que estava acontecendo. Fui para a redação das Selecções a pé, pois não havia autocarros nem táxis. Cheguei lá e encontrei o diretor da revista, um tipo que tinha muito amigos entre os escritores fachos, trancafiado e com cara de assustado. Era daqueles que andava sempre arrumado, mas estava descabelado e com a roupa amassada, como se tivesse dormido por lá. Não havia o que escrever sobre o 25 de Abril, a revista não cobria esse tipo de notícia. Desci então até o Chiado e vi a revolução acontecer. Até um dia desses, ainda mantinha numa gaveta o cravo vermelho que uma mulher me ofereceu.
Foi uma surpresa, afinal na minha percepção de estrangeiro, a ditadura tinha durado 48 anos e parecia que iria durar outros 48. Na manhã do dia 25, quando acordei, a rádio só tocava umas marchas militares. Liguei para uma jornalista amiga minha que me disse mais ou menos o que estava acontecendo. Fui para a redação das Selecções a pé, pois não havia autocarros nem táxis. Cheguei lá e encontrei o diretor da revista, um tipo que tinha muito amigos entre os escritores fachos, trancafiado e com cara de assustado. Era daqueles que andava sempre arrumado, mas estava descabelado e com a roupa amassada, como se tivesse dormido por lá. Não havia o que escrever sobre o 25 de Abril, a revista não cobria esse tipo de notícia. Desci então até o Chiado e vi a revolução acontecer. Até um dia desses, ainda mantinha numa gaveta o cravo vermelho que uma mulher me ofereceu.
Uma testemunha que não podia escrever sobre o 25 de Abril.
Nem por isso. Era o único jornalista brasileiro em Portugal naquela época. Se chegou algum outro, foi depois, talvez depois de 1 de maio. Em frente ao prédio da Selecções ficava o escritório comercial da Manchete. Bati na porta deles e me ofereci para ser o correspondente da revista, que também não tinha repórteres por aqui. Durante seis meses, cobri os desdobramentos da revolução. Fiz várias matérias de capa, mas nenhuma matéria era assinada, para evitar problemas com os meus patrões americanos. [...]
Nem por isso. Era o único jornalista brasileiro em Portugal naquela época. Se chegou algum outro, foi depois, talvez depois de 1 de maio. Em frente ao prédio da Selecções ficava o escritório comercial da Manchete. Bati na porta deles e me ofereci para ser o correspondente da revista, que também não tinha repórteres por aqui. Durante seis meses, cobri os desdobramentos da revolução. Fiz várias matérias de capa, mas nenhuma matéria era assinada, para evitar problemas com os meus patrões americanos. [...]
Lançamento de livro de Ruy Castro, A Vida por Escrito, na livraria da Travessa, em Lisboa RAQUEL WISE/TINTA-DA-CHINA |
[...] Será o biógrafo biografável? Ruy
Castro aplica a si próprio o que defende para os outros: “A minha biografia? Primeiro: isso só será feito
por cima do meu cadáver. [...] Já foi feito um
livro, que é a minha história limitada aos meus, até então, sete confrontos
com a morte. É O Oitavo Selo, da Heloísa.” Editado em 2014, foi buscar o
título ao filme de Bergman O Sétimo
Selo (1957). Heloísa explica: “São os
sete confrontos dele com a morte. O
oitavo selo seria o que estava em
aberto. Hoje já estamos no nono ou
décimo, relacionados com coração,
língua, fígado, nariz, pulmão… Mas
o Ruy sempre foi salvo pela palavra.
Sempre tinha um livro para terminar,
então não podia morrer.” [sublinhados acrescentados]
- ** a 29 de Junho, na FNC-COL., atingida a p. 55 - obra com questões afins às discutidas no MESTR.o - 02 - 05, com exemplos q. b.
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