- enquanto a Biblioteca não é instalada, Manguel «adapta-se» a Lisboa, a nova Morada; na longa evocação publicada no «Expresso», vai das referências AUTOB da Infância à história de vida da Ama, alemã, a «sugestões Literárias» e ao ensaio sobre o Motivo do Confinamento
Recortes do Excerto Inicial:
Nasci em Buenos Aires, mas, quando o meu pai foi nomeado embaixador em Israel, era eu ainda bebé, mudámo-nos para Telavive, para uma casa construída recentemente, [...]. Eu e a Ellin ficámos na cave: uma grande divisão cujas janelas eram quatro pequenos retângulos perto do teto, através dos quais eu via uma nesga de céu e a relva do jardim quadrado lá fora. As quatro palmeiras que havia no meio do relvado não se viam das minhas janelas, e eu experimentava sempre grande surpresa ao dar com elas, quando a Ellin me levava para brincar no jardim; parecia que estava à espera de que elas desaparecessem quando eu dormia. A redescoberta diária da presença das palmeiras reconfortava-me muito.
Ein Werdender wird immer dankbar sein”, citou a Ellin. “O homem feito é mau de contentar,/ Mas os que crescem sempre gratos serão.” E contou-me a história de quando ficou confinada durante meses com a sua família, em Estugarda, num apartamento demasiado pequeno, porque o pai dela considerava demasiado perigoso saírem à rua, sendo judeus; [...]
«Expresso»,
19 – 02 – 2021