- da »BiblioPenha», livro de 2017, que «compulsa» Crónicas Radiofónicas de 77-78;
RECORTE(s) da intitul.a «Ao de leve...»:
[...] Os meus sábados de rapazinho novo em Coimbra tinham aulas durante a manhã, [...] Às duas da tarde, um pardal chamado Fernando acabava de engolir a sobremesa e aí ia ele direito ao Jardim da Sereia ou ao Campo de Santa Cruz, felizmente próximos de casa. No Jardim da Sereia, [...] no mês de Junho, se não havia exames, apanhavam-se pirilampos, flores para o herbário, pequenos ramos de árvores com formas nunca vistas, disponíveis para a imaginação de quem passasse - e quem passava, claro, era eu, já esquecido da vergonha insossa dos calções que por esses anos quarenta e tal se usavam compridos até ao joelho, à inglesa. No Campo de Santa Cruz, se a malta dos meus amigos tinha bola a jeito, jogava-se uma futebolada imensa a imitar os grandes [...]
Ao fim da tarde, suado e de boca seca como um beduíno, ouvia a habitual reprimenda materna, depois a paterna, a lembrar a conta do sapateiro, e ia lavar-me à torneira, para não dar demasiado nas vistas. Televisão, não havia. Os putos desse século liam livros, e não apenas os sandokans, [...] Liam às vezes coisas substanciais, talvez um pouco à aventura, como me aconteceu com o Crime e Castigo de Dostoievski, que mastiguei aos 12 anos. [...]
Ao fim da tarde, suado e de boca seca como um beduíno, ouvia a habitual reprimenda materna, depois a paterna, a lembrar a conta do sapateiro, e ia lavar-me à torneira, para não dar demasiado nas vistas. Televisão, não havia. Os putos desse século liam livros, e não apenas os sandokans, [...] Liam às vezes coisas substanciais, talvez um pouco à aventura, como me aconteceu com o Crime e Castigo de Dostoievski, que mastiguei aos 12 anos. [...]
Fernando Assis Pacheco, tenho cinco minutos para contar uma história, 2017, pp. 30-31
[sublinhados acrescentados]
A Crónica das pp. 19 a 24, «Sou neto...», na RTP Arquivo;
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