quarta-feira, novembro 13, 2024

Retrato (Federica de Paolis)

 [alcançada a p. 205, de 232]

RECORTE(s): [ver primeiro o da Entrada «Seguinte - Abaixo»]

  Mas a personagem mais interessante da escola era Gesù, o professor de modelação (barro ou argila). Encontrámo-nos com ele na sala da sua disciplina. munidos de espátulas, facas, teques, lamelas, esponjas e baldes. Chegou com meia hora de atraso, tinha ganhado essa alcunha por conta dos cabelos compridos e lisos e pela barba por fazer, de um loiro rosado, a fazerem lembrar Nosso Senhor. Vestia um fato desgastado de cor creme, coçava com frequência as bochechas escavadas, tinha os olhos alucinados: arenosos de sono, faiscantes de ideias. Era filho de um actor muito famoso, ostentava o sobrenome  do pai [...] A primeira coisa que nos disse foi que nunca tinha ensinado a sua disciplina. O máximo que iríamos conseguir produzir num ano, o que poderia isso ser? Uma taça de argila? Um pequeno vaso? Um cinzeiro? 
   - Mas quem se rala com isso? - declarou. - Falaremos de alquimia, de Duchamp, de Piero Manzoni, de como conseguiu transformar a merda em ouro, dos cortes de Fontana, dos Cretti de Burri, da Melancholia de Durer... Daremos a volta ao  mundo , fechados aqui nesta  sala. 
  _ Vamos fazer história da arte, portanto, professor... ? - sussurrou a Gabriella, sardonicamente. [...] 

Federica de Paolis (1971; -), Do lado da mãe (2024), pp. 101 - 102

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