[alcançada a p. 123]
RECORTE(s):
A escola de artes era uma sinfonia de pré-fabricados cheios de rascunhos, a casa das segundas escolhas, dos falhados, dos marginais. Uma torrente de repetentes, autistas, punks fluía pelos seus corredores. O mesmo era válido para os professores, deambulavam de uma sala de aula para outra, com a cabeça no ar, sem registos, a improvisação era o denominador comum dos docentes. [...] Nos intervalos, o odor a erva irradiava das casas de banho a par do odor a piza. Os rapazes vagueavam lá fora pelo asfalto cinzento rodeado por muros. As principais matérias eram: desenho de natureza morta [...], desenho de figura humana (bustos no decurso do primeiro ano, depois modelos: mulheres do Nordeste, drogadas) e projecto. Algumas horas de matemática e depois história da arte, italiano.
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No bolso, para além da pílula, os Marlboro Suave (...) e os laxativos, agora tinha dois lápis e um afia, o mundo, finalmente, abria-me as suas portas. Não havia competição, autoridade ou felicidade a conquistar-se. Aquela escola era um oásis de retardados, grafites e borracha artística. Acima de tudo, o que valia era o olhar. O mundo do desenho coincidia com o literário, o que contava era o ponto de vista. Não as desinências, as regras, os casos. Apenas a subjectividade e a técnica. Eu gostava de desenhar, ainda que não fosse muito capaz; tinha vontade de aprender. [..]
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No bolso, para além da pílula, os Marlboro Suave (...) e os laxativos, agora tinha dois lápis e um afia, o mundo, finalmente, abria-me as suas portas. Não havia competição, autoridade ou felicidade a conquistar-se. Aquela escola era um oásis de retardados, grafites e borracha artística. Acima de tudo, o que valia era o olhar. O mundo do desenho coincidia com o literário, o que contava era o ponto de vista. Não as desinências, as regras, os casos. Apenas a subjectividade e a técnica. Eu gostava de desenhar, ainda que não fosse muito capaz; tinha vontade de aprender. [..]
Federica de Paolis (1971; -), Do lado da mãe (2024), pp. 100 - 101
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