[Excerto Recortado]
No Clube Húngaro, onde íamos almoçar aos domingos, antes de meu pai jogar seu carteado, eu era também o Luizinho. [...] Na gráfica do meu avô, onde eu passava algumas tardes, idem. Por isso eu gostava mais de ir à gráfica aos domingos.
No fim de semana, o Giuseppe me levava à Cromocart e abria a pesada porta pantográfica de ferro, para lá ficar, a sós com o neto, por cerca de duas horas. Nesses dias ninguém estava trabalhando, e eu não tinha que ouvir os funcionários me chamarem pelo apelido, para agradar o meu avô. Era curioso o tratamento na gráfica, onde estava implícito que eu seria o futuro chefe. No entanto, de calças curtas, era tratado de um modo que eternizava a condição infantil. [...] (pp. 59-60)
Passei a ser conhecido por Luizão, apelido que veio tão espontaneamente quanto o primeiro. Acredito que isso não se deu apenas pela minha estatura, mas por uma mescla desta com meu jeito expansivo e eloquente naquele grupo. Na época eu trajava quase diariamente um macacão jeans, com a língua dos Rolling Stones costurada na parte de cima, ténis All Stars vermelhos, e usava cabelos que chamávamos de black power. Hoje esse termo dificilmente seria usado para qualificar o penteado de um garoto judeu, branco e de classe média-alta. Eram outros tempos. Esse foi o visual que marcou minha figura naquele período, a imagem da libertação de uma infância cheia de diminutivos.
Luiz Schwarcz, O ar que me falta - História de uma curta infância e de uma longa depressão, 2021, p. 59-60; 68
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