[rapidamente lido, irá provavelmente para a «Mesa das Trocas»...]; não foi; colocado numa EST. do CORR, «Secção C. B»...
segunda-feira, novembro 25, 2024
Futebol na Montra (de «Bambino a Roma»)
RECORTE(S):
[...] E às 16h45, hora em que os times estavam prestes a entrar em campo, ouvi o chamado: Brasiliano!
Eu nunca tinha visto uma televisão de verdade, [...] E agora o Amadeo me levava correndo à Via Topino, onde funcionava uma loja de electrodomésticos que recentemente passara a vender a grande novidade. Havia uma aglomeração defronte da vitrine e o Amadeo pediu prioridade para o brasiliano bem na hora em que a banda acabava de executar nosso hino. Envaidecido, grudei o nariz na vitrine, a uns dois metros de distância da meia dúzia de aparelhos [...] Às vezes a imagem numa tela se punha a rodar para baixo, no que era imitada pelas outras telas, e o vendedor vinha regular uns botões para aplacar nossos protestos. A transmissão também apresentava uma espécie de chuvisco, que se misturava à tromba-d´água que caía em Berna encharcando o gramado. [...] Lá estavam o Castilho, o Pinheiro, o Didi, nomes que eu não me furtava a recitar em voz alta sem molestar os telespectadores ao meu redor. Ao contrário, eles estavam admirados de ver pela primeira vez um brasileiro de carne e osso e me pediam informações suplementares às do locutor italiano: não, o centromédio Bauer não era alemão, não, o centroavante Índio não morava na selva, nem os laterais Djalma Santos e Nilton Santos eram irmãos, tanto que um era preto e o outro, branco. [...]
Chico Buarque, Bambino a Roma, 2024, pp. 91-92
[artigo de Isabel Coutinho, no «Ípsilon» + Um capítulo]
segunda-feira, novembro 18, 2024
Camões
- 6 e 50, último acordar, desligar da «Máq. APN»
- Quadrado, ainda em tempos de Ardósia e Giz... Sessão de introdução à Lírica Camoniana. Desinteresse total, nem a «Leonor» dita de Cor os espicaçou; em vão tenta comentar o Soneto de Cor transcrito na Ardósia...; vão saindo; a seis minutos do fim, restam 3 ou 4, de pé, tentando «conduzir a conversa para ouras bandas»...
quarta-feira, novembro 13, 2024
Retrato (Federica de Paolis)
[alcançada a p. 205, de 232]
RECORTE(s): [ver primeiro o da Entrada «Seguinte - Abaixo»]
Mas a personagem mais interessante da escola era Gesù, o professor de modelação (barro ou argila). Encontrámo-nos com ele na sala da sua disciplina. munidos de espátulas, facas, teques, lamelas, esponjas e baldes. Chegou com meia hora de atraso, tinha ganhado essa alcunha por conta dos cabelos compridos e lisos e pela barba por fazer, de um loiro rosado, a fazerem lembrar Nosso Senhor. Vestia um fato desgastado de cor creme, coçava com frequência as bochechas escavadas, tinha os olhos alucinados: arenosos de sono, faiscantes de ideias. Era filho de um actor muito famoso, ostentava o sobrenome do pai [...] A primeira coisa que nos disse foi que nunca tinha ensinado a sua disciplina. O máximo que iríamos conseguir produzir num ano, o que poderia isso ser? Uma taça de argila? Um pequeno vaso? Um cinzeiro?
- Mas quem se rala com isso? - declarou. - Falaremos de alquimia, de Duchamp, de Piero Manzoni, de como conseguiu transformar a merda em ouro, dos cortes de Fontana, dos Cretti de Burri, da Melancholia de Durer... Daremos a volta ao mundo , fechados aqui nesta sala.
_ Vamos fazer história da arte, portanto, professor... ? - sussurrou a Gabriella, sardonicamente. [...]
Federica de Paolis (1971; -), Do lado da mãe (2024), pp. 101 - 102
terça-feira, novembro 12, 2024
«Aquela escola era um oásis...»; Federica de Paolis
[alcançada a p. 123]
RECORTE(s):
A escola de artes era uma sinfonia de pré-fabricados cheios de rascunhos, a casa das segundas escolhas, dos falhados, dos marginais. Uma torrente de repetentes, autistas, punks fluía pelos seus corredores. O mesmo era válido para os professores, deambulavam de uma sala de aula para outra, com a cabeça no ar, sem registos, a improvisação era o denominador comum dos docentes. [...] Nos intervalos, o odor a erva irradiava das casas de banho a par do odor a piza. Os rapazes vagueavam lá fora pelo asfalto cinzento rodeado por muros. As principais matérias eram: desenho de natureza morta [...], desenho de figura humana (bustos no decurso do primeiro ano, depois modelos: mulheres do Nordeste, drogadas) e projecto. Algumas horas de matemática e depois história da arte, italiano.
[...]
No bolso, para além da pílula, os Marlboro Suave (...) e os laxativos, agora tinha dois lápis e um afia, o mundo, finalmente, abria-me as suas portas. Não havia competição, autoridade ou felicidade a conquistar-se. Aquela escola era um oásis de retardados, grafites e borracha artística. Acima de tudo, o que valia era o olhar. O mundo do desenho coincidia com o literário, o que contava era o ponto de vista. Não as desinências, as regras, os casos. Apenas a subjectividade e a técnica. Eu gostava de desenhar, ainda que não fosse muito capaz; tinha vontade de aprender. [..]
[...]
No bolso, para além da pílula, os Marlboro Suave (...) e os laxativos, agora tinha dois lápis e um afia, o mundo, finalmente, abria-me as suas portas. Não havia competição, autoridade ou felicidade a conquistar-se. Aquela escola era um oásis de retardados, grafites e borracha artística. Acima de tudo, o que valia era o olhar. O mundo do desenho coincidia com o literário, o que contava era o ponto de vista. Não as desinências, as regras, os casos. Apenas a subjectividade e a técnica. Eu gostava de desenhar, ainda que não fosse muito capaz; tinha vontade de aprender. [..]
Federica de Paolis (1971; -), Do lado da mãe (2024), pp. 100 - 101
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