[lidas as últimas trinta páginas do livro de F. de Paolis, interrompido lá por NOV-DEZ, de 24; após a narrativa da Morte da Mãe, um último, curto capítulo, de Evocação de outro Evento de quando a voz autoficcional andaria pelos cinco anos;
RECORTE daí:
[...] Voltámos à estrada e enfiou-se numa ruazinha, o parque Villa Ada estava muito perto. Abrandou para dar tempo a uma senhora de atravessar a passadeira: era de idade, trazia um velho cocker na trela e no braço tinha pendurada uma grande mala com asas de osso. Uma motorizada ultrapassou-nos pela direita, conduzida por um rapaz novo e esbelto, firme no selim como um guerreiro; com uma manobra marcial cercou a senhora e, num sopro, roubou-lhe a mala. A idosa soltou um grito [...] e a minha mãe engatou a primeira, sussurrando por entre os dentes:
- Olha-me este pedaço de filho da puta!
O ladrão tinha fugido a toda a brida, em voo rasante pela rua a descer, e a minha intrépida mãe decidiu que não podia deixar que escapasse impune.
- Segura-te bem, meu amor|
Agarrei-me à pega do passageiro de trás e Petulia agachou-se no chão do carro, parecia ter percebido o aviso. O ladrão furava o ar como uma seta, a palma da mão da minha mãe batia sem parar na buzina do Mini 90. O bairro Trieste ficou suspenso e imóvel ao assistir à cena de uma trintona possuída, uma menina electrizada, um cão aterrorizado, que mordiam os calcanhares a um ladrão em fuga. [..]
Federica de Paolis (1971; -), Do lado da mãe (2024), do capítulo final, «RUA NEMORENSE, n.º 33, 1976» [...], pp. 228, 229
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