segunda-feira, agosto 28, 2023

«as armadilhas da autoficção»

 Não sendo «assinante», só é possível ler a parte inicial do artigo de José Mário Silva, ora no «Expresso»; assim, não se pode entender a referência «armadilhas da autoficção»

O amor breve dos pais famosíssimos [...] paira sobre a escrita exemplar de Linn (com a mãe, numa imagem de 1976) que fala de si e da sua família sem cair nas armadilhas da autoficção

 

Li Erben/Getty Images

Recorte(s): Logo no início deste livro assumidamente híbrido, algures entre ficção e autobiografia, a romancista Linn Ullmann deixa um aviso: “Se existisse um telescópio que pudéssemos apontar para o passado, eu poderia dizer: olha, aqui estamos nós, foi assim que aconteceu.” O “nós” é uma “constelação” familiar que não chegou propriamente a existir: “Eu era filha dele e filha dela, mas não era filha deles, nunca fomos três, e, quando vejo a pilha de fotografias que tenho à minha frente na mesa, não encontro uma única imagem em que apareçamos os três juntos. Ela e ele e eu.” [...] O “eu” que narra, e por vezes se desdobra num “ela” (sobretudo ao evocar a infância), é Linn, última a chegar entre os nove filhos de Bergman.

quarta-feira, agosto 09, 2023

M. , director da A. A.

 [às 9 e 50, no CC VdaG «pós - JMJ», à espera da abertura da FNC; lendo Os Inquietos» (p. 230) e a fixar imagens para futuras ... ]

- pelas 4 e 40, desligou a «APN»; esforçou-se tanto, para fixar as imagens «anteriores», que não religou a MÁQ.a = índice alterado...]

- esteve a conversar com M. R. de S. (onde, esqueceu) - tentou fixar os 2 temas principais, esqueceu - depois, num táxi, continuou a conversa (idem, esqueceu); junto à «AA», M. saiu e o taxista perguntou a D. quem era - «já foi Presidente da República, agora é Director da «Escola do Paraíso»

sexta-feira, agosto 04, 2023

«telefones no congelador»

 [excerto seguinte da narrativa da Entrada anterior]

  [...] A minha mãe teve muitos namorados, mas acho que não gostava deles. Esperava, como Penélope, que o homem certo chegasse a casa. Tinha um telefone Cobra, branco, na mesinha de cabeceira. Era o que mais usava. Preferia estar no quarto. onde se sentia à vontade com uma das suas camisas de noite de seda. Quando me deitava ao seu lado [...] Tínhamos também um telefone na sala. Era um Cobra vermelho. Tocava sem parar. Quando a minha mãe não suportava o barulho, arrancava os dois telefones - o vermelho e o branco - das fichas e punha-os no congelador.
                                              
                                                  Linn Ullmann, Os inquietos, 2023, pp. 96 - 97

quinta-feira, agosto 03, 2023

«homens, tão simples quanto isso»

  [...] Já muito se disse e escreveu acerca do rosto da minha mãe, dos seus olhos, lábios, cabelo, da sua vulnerabilidade angustiante, de como as melhores actrizes canalizam todos os sentimentos para a área em redor da boca, mas nada disseram sobre as orelhas. Em pequena, gostava de me deitar bem juntinho  a ela e de lhe passar a mão pelo cabelo. Era tão pequena que ainda não tinha palavras para a beleza nem para o amor; estava, como a maioria das crianças em tenra idade, centrada no que era grande e no que era pequeno, e a  minha mãe tinha pés e orelhas grandes. Deitávamo-nos na sua cama de casal com pernas amarelas e lençóis floreados, e eu tinha permissão para lhe afagar o cabelo enquanto ela, por exemplo, lia um livro ou falava ao telefone. Terminava amiúde as chamadas com as palavras «homens, tão simples quanto isso». Dizia-o um pouco para o ar depois de pousar o auscultador. Homens, tão simples quanto isso. A minha avó também dizia homens, tão simples quanto isso. [...]

Linn Ullmann, Os inquietos, 2023, p. 96