quarta-feira, outubro 04, 2023

«a Menina que roubou o Nome da Mãe» Goliarda (Iuzza) (Maria) (Sapienza)

    «Portanto, como vos disse, chamo-me Goliarda, e tenho de reconhecer que, ao descobrir que todas as meninas se chamavam Maria, Anna, Giovanna, isso me deixou um pouco chocada. Não me atrevia a pedir explicações a ninguém, nem mesmo ao professor Jsaya, e embora em casa ouvisse dizer que me haviam dado este nome porque tivera um irmão chamado Goliardo que morrera antes de eu nascer, não fiquei nada convencida. E uma bela tarde, exasperada com este nome que deixava todos espantados, no pátio, na praia, procurei na lista telefónica de Catânia, desesperadamente, uma irmã ou um irmão com este nome. Em lágrimas, tive de aceitar a realidade: não havia nenhuma Goliarda nem nenhum Goliardo em toda a Catânia, logo, para mim, no mundo inteiro. Estava sozinha. [...]
[...]
     Os meus, mais tarde, devem ter-se arrependido deste nome, porque me chamavam Iuzza. Iuzza, na Sicília, é um diminutivo bastante comum. Sim, devem ter-se arrependido, mas isso não me importava nada. Goliarda existia, e Iuzza não era um nome. Tinha de ser eu própria a remediar o assunto. Era possível mudar de nome?. Tomei uma resolução que me fez suar as mãos, e na Playa, na escola - no pátio não, porque esses sabiam tudo - , comecei a dizer que me chamava Maria. Maria era o nome da minha mãe, logo não devia ser um roubo de grande monta. [...]
        
          Goliarda Sapienza (1924-1996), Carta Aberta (1967), Antígona, 2023,                                                                                             pp. 31, 39 

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