sábado, julho 22, 2023

«C de C»

  - obra «miscelânica», de curtas narrativas que «cruzam Géneros de Famílias Diarísticas» [outros recortes: AQUIAQUI]

O JARDIM
É a hora do almoço. Sento-me um bocado no jardim da Rotunda da Boavista à sombra, a comer uvas. Há sempre por ali tipos que vivem ao deus-dará. Um deles está à minha frente, deitado na relva com uma garrafa de água, vazia, nas mãos; traz demasiada roupa para este calor. Um outro, que parece mesmo Boudu salvo das águas, sentado num banco à minha esquerda, muito aprumado; de vez em quando bebe vinho de um pacote. Nem abro o livro, fico quieta a ouvir. Eles não se incomodam comigo, conversam, trocam informações sobre banhos e roupas  lavadas e passadas a ferro) que se compram por um euro, no Amial. Frases curtas, interjeições, pausas, repetições. «O Zé maluco não se vai aguentar no Magalhães Lemos.» Acendo um cigarro.

Cristina Fernandes. C de C, Flop, p. 121

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