sábado, junho 10, 2023

«Horta das Couves Futebol Clube»

 - Recorte(s) das pp. 70-71 da «leitura em curso», alcançada na ESP. do R., pelas 9 e 30:

[...] Perto da casa da Melva encontrámos o Ayoze e o Mencey, dois rapazes um ano mais novos do que nós, mas que eram muito espertos. Estavam a jogar à bola e tinham de ir a correr permanentemente pela estrada porque a bola lhes fugia e às vezes chegava até à parte de baixo da igreja. Nesse dia estavam a jogar no caminho, mas na maior parte do tempo jogavam na Horta das Couves Futebol Clube, uma espécie de campo de futebol improvisado numa das hortas por trás do tanque. Como o bairro era todo íngreme, a  Horta das Couves Futebol Clube também era. [...] Meninas, e se jogássemos aos apalpanços?, perguntaram-nos quando nos viram a saltar pela estrada abaixo. Eu parei, mas a Isora continuou a avançar e, lá em baixo, gritou-lhes que não, que nós íamos brincar às nossas coisas. [...] Dei meia-volta e segui-a rápido rápido porque tive medo de que os rapazes nos mandassem uma bolada por nos armarmos em boas e quando cheguei ao pé da Isora travei fixando os ténis no asfalto. A Isora voltou a tirar as cuecas do rabo e asfixiada e sem ar, muito corada, disse-me shit, alguma vez viste o pirilau do Simpessón quando está para fora? Não parece um batom vermelho?

Andrea Abreu, Pança de burro, Bertrand, 2023, pp. 70-71