segunda-feira, maio 29, 2023

O menino grapiúna e Camões

 - Evocações de Infância, mas não só, em pouco mais de 100 páginas, em «letra grande», ilustrado, de 81, 82

RECORTE(s) da 18.ª, e última narrativa:

    O primeiro dever passado pelo novo professor de Português foi uma descrição tendo o mar como tema. A classe se inspirou, toda ela, nos encapelados mares de Camões, aqueles nunca dantes navegados, o episódio do Adamastor foi reescrito pela meninada. Prisioneiro no internato, eu vivia na saudade das praias do Pontal onde conhecera a liberdade e o sonho. O mar de Ilhéus foi o tema da minha descrição.
    Padre Cabral [...] Na aula seguinte, entre risonho e solene, anunciou a existência de uma vocação autêntica de escritor [...] Tinha certeza, afirmou, que o autor daquela página seria no futuro um escritor conhecido. Não regateou elogios. Eu acabara de completar onze anos. [...]

Jorge Amado, O menino grapiúna, Europa-América, S/D (1992?), pp. 115-116

quinta-feira, maio 25, 2023

No 25, Ruy Castro estava em Lisboa + «O oitavo selo»

 - então jovem, Ruy Castro trabalhava para as «Selecções» e morava em Campo de Ourique; evoca «esse tempo» em entrevista à «Mensagem», jornal de Lisboa [...]

RECORTE(s): 

Como foi testemunhar o 25 de Abril?
Foi uma surpresa, afinal na minha percepção de estrangeiro, a ditadura tinha durado 48 anos e parecia que iria durar outros 48. Na manhã do dia 25, quando acordei, a rádio só tocava umas marchas militares. Liguei para uma jornalista amiga minha que me disse mais ou menos o que estava acontecendo. Fui para a redação das Selecções a pé, pois não havia autocarros nem táxis. Cheguei lá e encontrei o diretor da revista, um tipo que tinha muito amigos entre os escritores fachos, trancafiado e com cara de assustado. Era daqueles que andava sempre arrumado, mas estava descabelado e com a roupa amassada, como se tivesse dormido por lá. Não havia o que escrever sobre o 25 de Abril, a revista não cobria esse tipo de notícia. Desci então até o Chiado e vi a revolução acontecer. Até um dia desses, ainda mantinha numa gaveta o cravo vermelho que uma mulher me ofereceu.
Uma testemunha que não podia escrever sobre o 25 de Abril.
Nem por isso. Era o único jornalista brasileiro em Portugal naquela época. Se chegou algum outro, foi depois, talvez depois de 1 de maio. Em frente ao prédio da Selecções ficava o escritório comercial da Manchete. Bati na porta deles e me ofereci para ser o correspondente da revista, que também não tinha repórteres por aqui. Durante seis meses, cobri os desdobramentos da revolução. Fiz várias matérias de capa, mas nenhuma matéria era assinada, para evitar problemas com os meus patrões americanos. [...]
Lançamento de livro de Ruy Castro, A Vida por Escrito, na livraria da Travessa, em Lisboa RAQUEL WISE/TINTA-DA-CHINA

- entrevista - artigo, no Ípsilon, a 16 de Junho, sobre  A vida por escrito** - sobre o Género Biográfico - que veio lançar em Lisboa, também tratado no item acima - RECORTE(S) do final:
[...] Será o biógrafo biografável? Ruy Castro aplica a si próprio o que defende para os outros: “A minha biografia? Primeiro: isso só será feito por cima do meu cadáver. [...] Já foi feito um livro, que é a minha história limitada aos meus, até então, sete confrontos com a morte. É O Oitavo Selo, da Heloísa.” Editado em 2014, foi buscar o título ao filme de Bergman O Sétimo Selo (1957). Heloísa explica: “São os sete confrontos dele com a morte. O oitavo selo seria o que estava em aberto. Hoje já estamos no nono ou décimo, relacionados com coração, língua, fígado, nariz, pulmão… Mas o Ruy sempre foi salvo pela palavra. Sempre tinha um livro para terminar, então não podia morrer.”                                                [sublinhados acrescentados]
- ** a 29 de Junho, na FNC-COL., atingida a p. 55 - obra com questões afins às discutidas no MESTR.o - 02 - 05, com exemplos q. b.

domingo, maio 14, 2023

Zmab + «arranca-se num instante», seg. MEC (crónica de)

- Continua difícil levar a General à Zmab [desde Julho...]; não ajuda nada o que ontem ouviu ao telefone - talvez dito por M. G. da S., que «mora» em frente da Barragem de S. C. - sobre «a cor da Água...»;

- quanto à «desprotecção» da Paisagem Protegida, que já leva décadas..., «ponto da situação» no Artigo de hoje do «Azul-Público»: AQUI

- M. E: C. - «em tempos», «ZMAB visitante», reage ao anterior, em Crónica de 19 de Maio - «O horror provisório»

RECORTE:

[...] No Verão passado, depois de mais de dez anos sem lá ir, voltei a visitar a Zambujeira e Odemira e, apesar de estar preparado para o que ia ver, fiquei chocado com a extensão das estufas mesmo ali à beira-mar. Parecia que uma paisagem diferente, de uma terra diferente, de um país diferente, tinha caído em cima da paisagem que eu conhecia, enterrando-a para sempre. [...]  [sublinhados acrescentados]

quarta-feira, maio 10, 2023

Helder Macedo

 - sempre que se lê um romance «com Gémeos M. + F., ou outros» - no caso, personagens narradoras «à vez» - recorda-se a leitura, lenta e marcante, de Pedro e Paula, de 98, de Helder Macedo, [...] ; de seguida, verificou-se «as existências» da obra de H. M. [D. lembra-se de o ver e ouvir na C. da C., quando foi S. de E., por aí por....] e «as disponibilidades» (para acrescentar um pouco as «existências», se e quando possível... (...);

[a 15 de Maio, na FNC: «pode verificar, no COMP.,  os livros disponíveis de H. M.?»; [jovem FUNC]: «escreve o quê?»; «poesia, romance, Ensaio... - e ainda está vivo....»]; 

[Seminário «Modos da Melancolia», «D. Duarte e o pecado da tristeza», em Maio de 2022]

Fotografias tiradas por Ana Hatherly, dos amigos Jorge de Sena, Helder e Suzette Macedo em sua casa londrina, anos 60 - [copiada do OBSERV.]

 - na Santa, destaca-se uma entrevista ao OBS, de 2018, de antes do Letreiro «Só para assinantes», logo, completa [...], e a da Revista «Desassossego, de 2016

- [de 98, Entrevista de Clara F. Alves, na «RTP Arquivos»];  [de 2005, «Entre Nós», na «RTP Arquivos» + «Por outro lado», Ana Sousa Dias]

domingo, maio 07, 2023

Zmab

 - 5 e 35, desligar da «APN»

Após alguns dias na Casa Velha (cerca de 50 m2, na Rua da Graça), o casal convidado e os seus 7 Infantes partiram sem se despedirem, sequer; a General destacou «o modo como se tinham tão bem acomodado em tão exíguo espaço»; foram depois à Casa Nova (Rua dos ALTEIr.os) e a General enfatizou :«ainda bem que não os trouxemos para aqui - olha só o trabalho que daria a limpar...»;

- afinal, a Casa Velha é a terceira numa ladeira, na qual a água do Mar já «beija» a primeira, o que levou a General a comentar: «daqui a 10 ou 15 anos, o J. já não terá esta Casa...»

segunda-feira, maio 01, 2023

«Shakespeare nas dunas», Antonio Prata

- já «começado», um 1.º EX. foi para C. V. (E. F., recém-chegada, em 2017?), num C. de T.; um 2.º para Jone (confirmou-se, ontem, que ainda não o leu...); só agora acabado, um 3.º EX. [...] - [na sexta, C. F. pediu-o emprestado...]

Recortes:
[...] Por mais divertidas que fossem nossas atividades praianas, um mês é muito tempo e era inevitável que em algum momento fôssemos visitados por aquele implacável companheiro da infância: o tédio. No final de uma manhã, lá pela terceira semana, cansados do mar, da areia, dos «croquetes», pastéis, picolés e barrigas dos baiaucus, nos encarapitamos sob o guarda-sol e, emburrados, pusemos em prática a única estratégia que conhecíamos para espantar a infelicidade: azucrinar a vida dos adultos até que eles nos trouxessem alguma solução. [...]
[...] Conhecendo intuitivamente o antídoto, minha meia-irmã bateu os olhos no livro que seu pai tentava ler e perguntou o que era. Romeu e Julieta, ele disse, e não o deixamos mais continuar a leitura: «Sobre o que é? Por que eles não podiam casar? Onde fica Verona? Dá para chegar de carro? E de barco? Pra que lado? È antes ou depois da África?»  [...]
     Daquele dia em diante, quando voltávamos da birita, entupidos de Fanta Uva e pastel, sentávamos nas esteiras e, até o sol se pôr, ouvíamos a continuação da história. [...]

Antonio Prata, Nu, de botas, Tinta-da-China, 2017, pp. 111-112