sábado, outubro 28, 2023

Quadrados, sempre

 - muito sonha o «Mascarado Apneico», frequente ou maioritariamente,  com Qd.os

- 5 e 45, terceiro desligar da «Máq.a APN»
- Só uma Qd.a escrevia o Sumário - quando um outro enfatizou o ilógico «avanço da Numeração», R, «desconversou»; faltava o «documento de base» para a Oficina planeada e R. disse-lhes para o esperarem; saiu e foi de motorizada (!!!) a casa, a de S. Paulo, com as escadas de madeira; no regresso ia pensando que já chegaria tarde e o Qd.o teria «desertado»...

quinta-feira, outubro 19, 2023

a Menina «que andava a pensar muito em»

 - quando, de longe a longe, (re)encontra um(a) «Ex-AA» na rua, o mais frequente é enfatizar que «não se lembra...»; pois, se «terão sido cerca de 3000...»; 

- J. B. é a que mais tem «acompanhado», pelas obras e não só...; lembra-se quando (em 9798 ?), «referia os treinos às 6 da manhã, em BEL.,  e o(s) treinador(es)  RUSSO (s)»  e também da sua «troca de pista» (p. 37) (...); 

- RECORTE do seu mais recente livro:

[...] «No cúmulo das minhas dificuldades para conseguir manter o ritmo e continuar na equipa, pedi para lhe falar, àquele colosso de dois metros de altura e muitos palmos de largo. Abri a boca e consegui apenas dizer «que andava a pensar muito em» sem chegar a especificar no quê. Ele interrompeu-me. Disse uma frase que me gelou, num sotaque soviético carregado: «Nadador não pensa, nadador nada». No minuto seguinte eu estava dentro de água, soavam apitos, sucediam-se tarefas. [...]»

         Joana Bértholo, O meu treinador  - e outras vivências do desporto de alto rendimento., F. F. M. dos Santos, 2023, pp. 24-25

[sobre este, Entrevista a 7 de Dezembro: AQUI]

quarta-feira, outubro 04, 2023

«a Menina que roubou o Nome da Mãe» Goliarda (Iuzza) (Maria) (Sapienza)

    «Portanto, como vos disse, chamo-me Goliarda, e tenho de reconhecer que, ao descobrir que todas as meninas se chamavam Maria, Anna, Giovanna, isso me deixou um pouco chocada. Não me atrevia a pedir explicações a ninguém, nem mesmo ao professor Jsaya, e embora em casa ouvisse dizer que me haviam dado este nome porque tivera um irmão chamado Goliardo que morrera antes de eu nascer, não fiquei nada convencida. E uma bela tarde, exasperada com este nome que deixava todos espantados, no pátio, na praia, procurei na lista telefónica de Catânia, desesperadamente, uma irmã ou um irmão com este nome. Em lágrimas, tive de aceitar a realidade: não havia nenhuma Goliarda nem nenhum Goliardo em toda a Catânia, logo, para mim, no mundo inteiro. Estava sozinha. [...]
[...]
     Os meus, mais tarde, devem ter-se arrependido deste nome, porque me chamavam Iuzza. Iuzza, na Sicília, é um diminutivo bastante comum. Sim, devem ter-se arrependido, mas isso não me importava nada. Goliarda existia, e Iuzza não era um nome. Tinha de ser eu própria a remediar o assunto. Era possível mudar de nome?. Tomei uma resolução que me fez suar as mãos, e na Playa, na escola - no pátio não, porque esses sabiam tudo - , comecei a dizer que me chamava Maria. Maria era o nome da minha mãe, logo não devia ser um roubo de grande monta. [...]
        
          Goliarda Sapienza (1924-1996), Carta Aberta (1967), Antígona, 2023,                                                                                             pp. 31, 39 

terça-feira, outubro 03, 2023

«A medida das carências: uma imagem: [...] bombons cor-de-rosa»

[Outro Recorte da Leitura das semanas de 18 a 30 de SET.]

    «Contagiado pela esperança geral de 1945, ele decidiu abandonar o Vale. Eu adoecia com frequência, e o médico queria enviar-me para um sanatório. Eles venderam os seus bens para regressar a Y..., [...] O camião de mudanças, em cuja cabina nos instalámos, chegou a Y..., a meio da feira de outubro. A aldeia tinha sido incendiada pelos alemães e as barracas erguiam-se entre os escombros. [...] Ele conseguiu trabalho na Câmara, na terraplanagem das crateras das bombas. À noite, junto da barra dos antigos fogões [...] ela dizia; «Que condição.!» Ele nunca respondia. À tarde, ela levava-me a passear pela cidade. Somente o centro tinha sido destruído, e os armazéns haviam-se instalado em casas particulares. A medida das carências, uma imagem: um dia, já escuro, na montra de uma pequena janela, a única iluminada na rua, brilham bombons cor-de-rosa, ovais, polvilhados de branco, em pequenas saquetas de celofane. Não eram para qualquer pessoa, eram necessários cupões.
  
 Annie Ernaux,  Um lugar ao sol seguido de Uma mulher, 2022, p. 37

segunda-feira, outubro 02, 2023

«Era preciso viver, apesar de tudo»

     [Outro Recorte da Leitura das semanas de 18 a 30 de SET.]

    «Até meados dos anos cinquenta, nos jantares de comunhão, nos festejos de Natal, a epopeia daquela época será recitada em várias vozes, repetida indefinidamente sempre com os temas do medo, da fome e do frio durante o inverno de 1942. Era preciso viver, apesar de tudo. A cada semana, o meu pai trazia de um entreposto, a trinta quilómetros de L..., num reboque atrelado à sua bicicleta, as mercadorias que os grossistas já não entregavam. Sob os bombardeamentos incessantes de 1944, naquela parte da Normandia, ele continuou a abastecer-se, mendigando suplementos para os velhos, famílias numerosas e todos os que estavam sob a acção do mercado negro. [...]
    Ao domingo encerravam o comércio, passeavam pelos bosques e faziam piqueniques com pudim sem ovos. Ele levava-me às cavalitas, cantando e assobiando. Durante os alertas, escondíamo-nos debaixo do bilhar do café, com a cadela. Convictos de que «era o destino». Por ocasião da Libertação, ele ensinou-me a cantar A Marselhesa, acrescentando no final «tas de cochons» para rimar com «sillon»- Assim como as pessoas em volta, estava muito contente. Quando ouvíamos um avião, levava-me à rua pela mão e mandava-me olhar para o céu, o pássaro: a guerra tinha terminado.»
  
 Annie Ernaux,  Um lugar ao sol seguido de Uma mulher, 2022, p. 36 - 37