domingo, junho 23, 2024

76 - 77 + RUG., 17.º Dia

 - 9 e 20; estava na ESPL. do RTA, com Óculos (muito) escuros e Chapéu de Abas (muito) largas; cumprimentou R., que retorquiu «que estava muito bem disfarçada»; MÉD.a, com 64, (do ano, 76-77, do «desistente» em 80), com Casa no Rugido. vem sendo «reencontrada» década após década (1.º ano de D., na Zmab, em 78...; até 84, Tenda e Mochila e...), contou que o Pai, na Zmab, se «libertava da DEP. ão Crónica»[... ]; Well...

terça-feira, junho 18, 2024

«Ao de leve no travão da vida», F. Assis Pacheco

 - da »BiblioPenha», livro de 2017, que «compulsa» Crónicas Radiofónicas de 77-78; 

RECORTE(s) da intitul.a «Ao de leve...»:

      [...] Os meus sábados de rapazinho novo em Coimbra tinham aulas durante a manhã, [...] Às duas da tarde, um pardal chamado Fernando acabava de engolir a sobremesa e aí ia ele direito ao Jardim da Sereia ou ao Campo de Santa Cruz, felizmente próximos de casa. No Jardim da Sereia, [...] no mês de Junho, se não havia exames, apanhavam-se pirilampos, flores para o herbário, pequenos ramos de árvores com formas nunca vistas, disponíveis para a imaginação de quem passasse - e quem passava, claro, era eu, já esquecido da vergonha insossa dos calções que por esses anos quarenta e tal se usavam compridos até ao joelho, à inglesa. No Campo de Santa Cruz, se a malta dos meus amigos tinha bola a jeito, jogava-se uma futebolada imensa a imitar os grandes [...]
      Ao fim da tarde, suado e de boca seca como um beduíno, ouvia a habitual reprimenda materna, depois a paterna, a lembrar a conta do sapateiro, e ia lavar-me à torneira, para não dar demasiado nas vistas. Televisão, não havia. Os putos desse século liam livros, e não apenas os sandokans, [...] Liam às vezes coisas substanciais, talvez um pouco à aventura, como me aconteceu com o Crime e Castigo de Dostoievski, que mastiguei aos 12 anos. [...]
 
Fernando Assis Pacheco, tenho cinco minutos para contar uma história, 2017, pp. 30-31

[sublinhados acrescentados]

A Crónica das pp. 19 a 24, «Sou neto...», na RTP Arquivo; 

domingo, junho 09, 2024

Retrato Vermelho + «Retrato, vós não sois meu»

 - «pelos 500 anos», artigo do Ípsilon, de Raquel Her.es da Silva, sobre os retratos de Camões [..]


Retrato de Luís de Camões executado a sanguínea por Luís de Resende no século XIX, a partir de original de Fernão Gomes, 2.ª metade do sec. XVI 

RECORTE(s):

   Não existe nenhum comentário epocal a este retrato e, portanto, nada sabemos sobre o cumprimento da sua verosimilhança, excepto, segundo notável proposta de Graça Moura, do próprio Camões! Afirma ele (Retratos de Camões, 2014) que as redondilhas Retrato, vós não sois meu confrontam, com humor e criatividade, o Retrato a Vermelho. Apesar de nos movermos numa espiral de hipóteses bastante labirínticas, não posso deixar de citar os primeiros versos:

Retrato, vós não sois meu;
Retrataram-vos mui mal;
Que, a serdes meu natural,
Fôreis mofino como eu.

Inda que em vós a arte vença
O que o natural tem dado,
Não fostes bem retratado,
Que há em vós mais diferença
Que do vivo ao pintado.
Se o lugar se considera
Do alto estado que vos deu
A sorte, que eu mais quisera;
Se é que eu sou quem de antes era,
Retrato, vós não sois meu.

(…)

   Há de facto um fosso entre os testemunhos epocais, referindo a pobreza e abandono do poeta, e a imagem proposta pelo Retrato a vermelho, mas o que mais interessa realçar é a energia conceptual do poema, uma verdadeira teoria do retrato, que distingue o “natural” (o que ele objectivamente era) do “pintado” (o retrato) e do “mofino” que ele sabia ser (imagem psicológica de si mesmo). A diferença que mais lhe interessa é a última. Ele não se identificaria com o retrato não tanto porque o artista o representa mais belo do que era, mas porque lhe tira o que tem de mais próprio: o ser “mofino”, que, ainda que a desejasse, nunca tivera “sorte” (1)**.[...]

**O retrato psicológico de Camões foi brilhantemente sintetizado por Diogo do Couto que com ele privou na Índia: "Este homem teve sempre estrela de poeta que é serem todos pobres, e uma natureza terrível, e enfim pouca ventura”