quarta-feira, julho 31, 2024

Pesadelo com Rugido

 - 5 00: «APN» (1.º desligar da MÁQ.a)

 - de manhã cedo, concentração na Zmab, para um almoço de «comemoração» de [...], em [...]; levaram todos os carros, incluindo o de D., com as chaves de casa e documentação vária; deambulou o resto do dia, sem comer e sem que lhe atendessem o telefone; ao anoitecer chegaram várias autoridades, com um jovem casal holandês, que reinvindicava a propriedade do Paraíso; recontou o processo de 12-13, mas, sem documentos que o provassem...; nem a mana C. nem o sobrinho P. nem o filho J. lhe atendiam o telefone; finalmente, atendeu um GNR, que lhe comunicou que a Mana C. cometera uma infracção, agredira um agente e fora acidentalmente atingida por consequente disparo...[...]

terça-feira, julho 16, 2024

De Luizinho a Luizão

        [Excerto Recortado]
     No Clube Húngaro, onde íamos almoçar aos domingos, antes de meu pai jogar seu carteado, eu era também o Luizinho. [...] Na gráfica do meu avô, onde  eu passava algumas tardes, idem. Por isso eu gostava mais de ir à gráfica aos domingos.
     No fim de semana, o Giuseppe me levava à Cromocart e abria a pesada porta pantográfica de ferro, para lá ficar, a sós com o neto, por cerca de duas horas. Nesses dias ninguém estava trabalhando, e eu não tinha que ouvir os funcionários me chamarem pelo apelido, para agradar o meu avô. Era curioso o tratamento na gráfica, onde estava implícito que eu seria o futuro chefe. No entanto, de calças curtas, era tratado de um modo que eternizava a condição infantil. [...] (pp. 59-60)
   Passei a ser conhecido por Luizão, apelido que veio tão espontaneamente quanto o primeiro. Acredito que isso não se deu apenas pela minha estatura, mas por uma mescla desta com meu jeito expansivo e eloquente naquele grupo. Na época eu trajava quase diariamente um macacão jeans, com a língua dos Rolling Stones costurada na parte de cima, ténis All Stars vermelhos, e usava cabelos que chamávamos de black power. Hoje esse termo dificilmente seria usado para qualificar o penteado de um garoto judeu, branco e de classe média-alta. Eram outros tempos. Esse foi o visual que marcou minha figura naquele período, a imagem da libertação de uma infância cheia de diminutivos.

Luiz Schwarcz, O ar que me falta - História de uma curta infância e de uma longa depressão, 2021, p. 59-60; 68

segunda-feira, julho 15, 2024

Mundial de 1966 + Metáfora(s) + «Magriço(s)»

 - [em 66, tb. com 10 anos, D. assistiu aos jogos na sala de dentro da «Tasca do Pepe», na Esquina da C. da B. G...]

     «Do último ano em que fui à Ma-Ru-Mi, me recordo de um episódio que teve um sabor agridoce para mim. Foi lá, já com dez anos, que ouvi pelo rádio a derrota do Brasil para Portugal, na Copa do Mundo de 1966. Lembro bem de todos amontoados para escutar o jogo, que marcou nossa eliminação da Copa de Inglaterra. O sentimento de impotência ao acompanhar uma derrota do seu time numa partida de futebol é sempre grande. No rádio essa sensação é ainda maior. Com vinte pessoas entre você e o aparelho, a coisa só piora. No entanto, em meio a tanta tristeza, fiquei fascinado pela narração, na qual Fiori Gigliotti, pródigo em metáforas, ministrava uma aula inicial sobre essa figura de linguagem. "Abrem-se as cortinas, torcida brasileira": assim ele começava a transmissão de todos os jogos. O gramado era um tapete ou tablado verde, o atacante português Eusébio uma pantera. [...] 

Ilustração de Vasco Parracho, de 27 de Junho, no «FACE»

A força dramática com que aquela derrota foi narrada nunca saiu da minha cabeça. E eu, vivenciando mais uma experiência triste de férias, escutava comovido Fiori Gigliotti falar no fim do jogo, "tudo é melancolia no lado brasileiro", "tudo é dor, senhoras e senhores", A partir de então fui muitas vezes a estádios com o radinho de pilha colado à orelha; assistia ao jogo por minha conta mas os ouvia na voz do locutor. 

Luiz Schwarcz, O ar que me falta - História de uma curta infância e de uma longa depressão, 2021, p. 51