quarta-feira, fevereiro 28, 2024

«O homem que lia as paredes» - Lucia Berlin (A Casa, as casas)

 - de 2019, mas vindo agora da FNC (30%...); alcançada a p. 81 destas evocações dos «29 primeiros anos de Vida de L. B.» (livro final, deixado incompleto,- 94 pp. - «em 1965» + «Cartas Escolhidas») OU ABG - ROTEIRO pela(s) CASA(s) [...]; 33 delas listadas entre 93 e 97;

RECORTE(s):

    Semanas antes do primeiro nevão, o meu pai levava-me às montanhas todos os sábados. Transportávamos provisões de Inverno para dar a um velho garimpeiro que lá viveu sozinho durante uns cinquenta anos. Farinha e café, tabaco, açucar, feijão seco, porco salgado, aveia, velas. Pesadas pilhas de revistas: The Saturday Evening Post, Redbook; Field and Stream
   Era uma longa subida, por um carreiro que marcámos no primeiro dia. Ele deixou-me fazer golpes nos troncos; a seiva mantém-se pungente na minha memória. Aninhada na orla do prado luxuriante verde-vivo, ficava a casa de madeira de Johnson. Na verdade, era uma cabana tosca, por pintar, com janelas que pareciam olhos e uma porta como um sorriso apalermado e torto. Ervas altas e flores silvestres cobriam o telhado como um chapéu festivo. [...]
[...] Eu arrancava meticulosamente as páginas das revistas e colava-as nas paredes com farinha e cola de água, com muito cuidado para não molhar nenhuma parte do texto. A ideia era fazer uma montagem cerrada das páginas em toda a casa, do chão ao tecto. E, nos dias escuros de Inverno, Johnson leria as paredes. [...]
[sublinhados acrescentados]

Lucia Berlin, Bem-vinda a casa, 2019, pp. 29-31

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